Neymar precisa respeitar o que representa
Meu pai me ensinou a gostar de futebol desde criança. Certa vez ganhei uma bola de presente, e foi meu pai quem me ensinou a chutá-la para fazer um gol. Eu já sabia que seu time era o Flamengo por duas razões: a primeira porque o time da Gávea tem as mesmas cores que o time do meu pai na Paraíba, o Campinense. E a segunda é o Zico. Ídolo do meu pai e de toda a nação rubro-negra.
Em último texto, eu disse que a reclamação que tenho dos meus pais é por não ter nascido a tempo de ver a geração de Zico e o Mundial de 1982. Mas apesar desse problema de prazo, não estou tão mal assim. Nascida em 1990, vi três finais de Copa do Mundo (1994, 1998 e 2002), além de Romário, Rivaldo, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho. Todos craques antes de Neymar.
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Neymar Jr. Em 2011, tenho certeza que todos os flamenguistas pararam para ver o histórico Santos e Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro, que terminou com a vitória rubro-negra por 5 a 4.
O jogo começou com dois gols do Peixe. Pensei que fôssemos levar uma goleada, ainda mais depois do golaço do Neymar, uma obra-prima, que venceu o Prêmio Puskas daquele ano.

Muito se falou desse jogo, um jogo de nove gols, com dois times candidatos ao título e com Neymar, à época com 19 anos, e já mostrando que era o melhor jogador atuando no Brasil. Muitos jornalistas esportivos o comparavam a Pelé e decretavam que ele seria a próxima estrela brasileira a ganhar uma Copa do Mundo e a Bola de Ouro.
Da camisa 11 do Santos, ele passou a jogar com o mesmo número no Barcelona FC, em 2013. Na Seleção, quando foi chamado, continuou a usar a 11, até que na Copa das Confederações trocou pela 10.
Oito anos se passaram desde então. E a sensação que tenho, é que Neymar ainda não entendeu que camisa está vestindo. A camisa 10 da Seleção Brasileira tem história. Muita história. O jogador, ao vesti-la, deve respeitá-la e honrá-la.
Prêmios individuais importam? Não. Bola de Ouro é consequência de grandes atuações em campo. Se perguntarem a qualquer jogador o que preferem, um prêmio individual ou uma Copa do Mundo, tenho certeza que ser campeão com a seleção de seu país é a resposta a ser escolhida por muitos.
Além de ter o talento com a bola, o camisa 10 deve ser aquele jogador que, em uma Copa do Mundo, desequilibra, cria jogadas quando o time está atrás do placar e não se entrega até o juiz apitar o final da partida.
Neymar Jr., após o fim da última partida contra o Peru, pelas Eliminatórias, disse a seguinte frase: “Não sei mais o que faço com essa camisa para a galera respeitar o Neymar”. Ora, você está lembrado do que fez na Rússia em 2018? Você virou piada no mundo todo, nos principais jornais, por cair, cavar faltas.
Após a derrota contra a Bélgica, sua reação, Neymar, foi o silêncio. Nenhuma entrevista, zero satisfação.
Você só reapareceu meses depois em um comercial da Gillette, em um texto que, óbvio, não foi escrito por você, mas que diz uma frase interessante: “quando eu fico de pé, parça, o Brasil inteiro levanta comigo”.
Quem? Não somos parças. Tampouco o povo brasileiro o é. Aliás, que diabo são os parças? O que você precisa aprender urgente, Neymar, como camisa 10, a que vestiu Pelé, Rivaldo e o ídolo de meu pai, Zico, é aceitar as críticas. Jornalistas e nós, torcedores, não temos a obrigação de lamber suas chuteiras. Você é quem tem a obrigação de entender o que representa.
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É filha de Jerônimo Figueredo e Maria José Juvenal, um porteiro e uma trabalhadora doméstica. Graças às políticas de inclusão, cursou Letras na PUC-RJ e História da Arte, na Universidade de Navarra (ESP). Atualmente apresenta o Elevador de Serviço, programa da TV Democracia, no Youtube. Fala sobre a vida aqui no Lado B, às quintas-feiras.
Quanta verdade e lucidez neste texto cheio de futebol e sensibilidade feminina.