A luta das mulheres move o mundo
Quando olhamos para todas as grandes revoluções da história, lá estão as mulheres. Algumas vezes de forma explícita e inquestionável, como na Revolução Russa, outras vezes apagadas pela história oficial, como na Revolução Francesa. Mas é fato que as mulheres sempre estiveram presentes nas lutas mais importantes da maioria das sociedades que hoje conhecemos.
Em 2018 tivemos o Ele Não, maior mobilização de rua desde 2013. Encabeçados por mulheres, os atos foram fundamentais para mostrar a resistência de parte expressiva do Brasil ao então candidato Jair Bolsonaro. Hoje, parte da esquerda diz que o Ele Não foi responsável pela eleição de Bolsonaro, o que só denota um ranço enorme de parte da esquerda masculina brasileira com as mulheres. Se pudessem, nos apagariam da história, como tantas vezes se fez no passado.
E este ano as mulheres serão, mais uma vez, fundamentais para a proteção da nossa fraca e limitada democracia. As mulheres, que são as mais impactadas pelo desemprego (segundo o IBGE, 17,9 das mulheres estão desempregadas, enquanto nos homens esse número chega a 12,2%) e pela inflação (além da comida, que na maior parte das vezes fica sob responsabilidade das mulheres, produtos íntimos, remédios e itens cosméticos também significam maior custo no dia a dia). Viver está cada vez mais caro e difícil para as mulheres, que empobreceram perante esse governo.
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Ao que tudo indica, a maior oposição a Bolsonaro se dará com uma chapa totalmente masculina, com Lula e Alckmin. E Alckmin, como seu histórico mostra, sempre foi um inimigo das mulheres mais pobres e trabalhadoras. Ele, na vice-presidência da república, será um triste sintoma de que as raízes neoliberais, que nos trouxeram até Bolsonaro, ainda seguem vivas e firmes. Bolsonaro será derrotado nas urnas, mas o bolsonarismo, independente da estética que assuma, só será vencido a longo prazo. E essa batalha não se fará exclusivamente através de eleições, mas sobretudo nas redes e nas ruas.
E as mulheres, mais uma vez, terão que mostrar sua força. Mas não só na resistência a possíveis retrocessos que certamente serão defendidos por Alckmin, mas também no avanço de direitos. As mulheres não querem apenas ficar sobrevivendo, as mulheres querem viver! Temas como o aborto e demais direitos sexuais e direitos reprodutivos (que afetam diretamente as mulheres e todas as pessoas com útero) e o combate ao feminicídio, terrível marca patriarcal que o Brasil carrega, deverão ser prioridades.
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Ontem, na Câmara Municipal do Rio, aconteceu um momento inédito. As vereadoras e vereadores aprovaram, por ampla maioria, um projeto complexo, que cria o Programa Municipal de Enfrentamento ao Feminicídio. O Programa não foca apenas na segurança pública, mas estipula mecanismos de prevenção às violências contra as mulheres também através da educação, da saúde e da assistência social. O Programa foi autoria da vereadora Monica Benicio (PSOL) e contou com uma construção coletiva, formada por assessoria parlamentar feminista e também trabalhadoras de diferentes órgãos e instituições que atendem mulheres vítimas de violência, além dos movimentos sociais. Para coroar o feito, o Programa inclui “identidade de gênero” nas suas intersecções, o que significou uma derrota retumbante da ala bolsonarista da Câmara carioca.

A Câmara do Rio é um espaço pequeno, um microcosmo de tudo que teremos que enfrentar. Mas também é amostra de tudo aquilo que podemos fazer. As mulheres, quando juntas, fazem revoluções. Porque a luta feminista não é a agenda esvaziada de compromisso político do feminismo liberal, nem os ataques raivosos e reacionários do feminismo radical. Feminismo é a elaboração e articulação de mulheres que querem mudar o mundo de forma profunda, para todas as pessoas e seres que nele habitam. Podem ainda tentar nos apagar da história oficial, mas nós mulheres sabemos que nossas lutas movem o mundo.
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Comunicadora de esquerda, feminista e ecossocialista.